11 de novembro de 2015

TRAGÉDIA



Dos quinhentos moradores do vilarejo, cinquenta sobreviveram – e acreditam piamente na existência de Deus.


Minas Gerais, novembro de 2015.

5 de maio de 2013

A FENDA





A mulher:
Deus me defenda.

O homem:
Já deu.





Do livro O palhaço do circo sem graça.  








20 de outubro de 2012

O INCRÍVEL ENGOLIDOR DE SAPOS (um homem chamado cidadão)




Respeitável público! Gran Circo Terra Brasilis orgulhosamente apresenta: O INCRÍVEL ENGOLIDOR DE SAPOS! Para o aplauso dos senhores: CI-DA-DÃO!









 
                                                    Do livro narrativas mínimas.









11 de setembro de 2012

O PALHAÇO DO CIRCO SEM GRAÇA


Veja bem: se todos me chamam de palhaço, se todos me apontam dizendo olha lá o palhaço, olha lá o palhaço!, então eu sou o palhaço, certo? Se o mundo é um grande circo, e se essa merda está cada vez mais sem graça, de quem é a culpa? Responda. Não é do palhaço?








Do livro O palhaço do circo sem graça.

4 de agosto de 2012

CIVILIDADE

Vamos agredir o agressor. Ele precisa aprender ci-vi-li-da-de.








Do livro O Círculo.

11 de abril de 2012

CHÃO DE PREGOS EM BRASA

ERA um chão de pregos em brasa. Na medida em que corria, os pregos cravavam nas solas descalças dos meus pés, que já estavam que era uma ferida só. Não sei se o que doía mais era o enterrar dos pregos ou o queimar dos pregos. Corria desesperadamente e na medida em que dava um passo à frente, o chão atrás de mim ia desmoronando, abrindo um imenso precipício. Era uma sensação terrível, aflitiva, e eu estava muito cansado, quase que não agüentando a carreira contra o tempo e contra o chão que ruía. E tinha os pregos que me causavam dor sobre-humana. Foi quando ouvi a voz que me disse que eu já poderia fazer uso de minhas asas…







Do livro Um arado rasgando a carne.

28 de março de 2012

O HOMEM FEROZ

Rex era um cão que não gostava de visitas. Para evitá-las, pôs em seu quintal uma placa
com o seguinte letreiro: CUIDADO! HOMEM FEROZ.








Do livro narrativas mínimas.

21 de março de 2012

O RATO


Há meses vinha sentindo o seu cheiro azedo nas paredes de tábua e nos móveis, há meses vinha escutando o barulho das suas patas no sótão e no assoalho e o derrubar de coisas, que guloso e daninho, provocava no meio da noite. Eu o odiava há meses. E agora está aqui espetado no garfo. Escorregou do caibro e caiu sobre a mesa e jaz aqui, de olhos esbugalhados, causando-me alegria, prazer e nojo, espirrando de sangue a mesa e estragando-me a janta.










Do livro Um arado rasgando a carne.

2 de março de 2012

A NOSSA SENHORA


          Às vezes, aos fins de tarde (não recordo com que freqüência), uma vizinha velha nos trazia a Nossa Senhora. A santa pousava em nossa casa. A mãe rezava, e no dia seguinte eu a entregava na casa de outro vizinho, fazendo seguir a romaria de visitas (não sem antes beijar o vidro que protegia a imagem). A mãe beijava, os vizinhos ao entregar a santa beijavam, beijavam ao receber a santa... Eu achava aquilo meio nojento. Era como tomar mate com estranhos: anti-higiênico.


Do livro O uniforme.

29 de fevereiro de 2012

UMA QUESTÃO GEOGRÁFICA

Tião sabia que aquele namoro não daria certo: ele era de Pau Grande, ela de Curralinho.









                                           Do livro O Círculo.