28 de março de 2012

O HOMEM FEROZ

Rex era um cão que não gostava de visitas. Para evitá-las, pôs em seu quintal uma placa
com o seguinte letreiro: CUIDADO! HOMEM FEROZ.








Do livro narrativas mínimas.

21 de março de 2012

O RATO


Há meses vinha sentindo o seu cheiro azedo nas paredes de tábua e nos móveis, há meses vinha escutando o barulho das suas patas no sótão e no assoalho e o derrubar de coisas, que guloso e daninho, provocava no meio da noite. Eu o odiava há meses. E agora está aqui espetado no garfo. Escorregou do caibro e caiu sobre a mesa e jaz aqui, de olhos esbugalhados, causando-me alegria, prazer e nojo, espirrando de sangue a mesa e estragando-me a janta.










Do livro Um arado rasgando a carne.

2 de março de 2012

A NOSSA SENHORA


          Às vezes, aos fins de tarde (não recordo com que freqüência), uma vizinha velha nos trazia a Nossa Senhora. A santa pousava em nossa casa. A mãe rezava, e no dia seguinte eu a entregava na casa de outro vizinho, fazendo seguir a romaria de visitas (não sem antes beijar o vidro que protegia a imagem). A mãe beijava, os vizinhos ao entregar a santa beijavam, beijavam ao receber a santa... Eu achava aquilo meio nojento. Era como tomar mate com estranhos: anti-higiênico.


Do livro O uniforme.